Ele é reconhecido pelos adeptos como um mestre iluminado que compartilhou suas ideias para ajudar os seres sencientes a alcançar o fim do sofrimento (ou Dukkha), alcançando o Nirvana (páli: Nibbana) e escapando do que é visto como um ciclo de sofrimento do renascimento.
O budismo pode ser dividido em dois grandes ramos: Theravada ("Doutrina dos Anciões") e Mahayana ("O Grande Veículo"). A tradição Theravada, que descende da escola Vibhajyavada do tronco Sthaviravada, é o mais antigo ramo do budismo. É bastante difundido nas regiões do Sri Lanka e sudeste da Ásia, já a segunda, Mahayana, é encontrada em toda a Ásia Oriental e inclui, dentro de si, as tradições e escolas Terra Pura, Zen, Budismo de Nitiren, Budismo Tibetano, Tendai e Shingon. Em algumas classificações, a Vajrayana aparece como subcategoria de Mahayana, entretanto é reconhecida como um terceiro ramo.
Mesmo o budismo sendo uma prática muito popular na Ásia, os dois ramos são encontrados em todo o mundo. Várias fontes colocam o número de budistas no mundo entre 230 milhões e 500 milhões, tornando-o a quinta maior religião do mundo.
As escolas budistas variam sobre a natureza exata do caminho da libertação, a importância e canonicidade de vários ensinamentos e, especialmente, suas práticas. Entretanto, as bases das tradições e práticas são as Três Joias: O Buda (como seu mestre), o Dharma (os ensinamentos) e a Sangha (a comunidade budista). Encontrar refúgio espiritual nas Três Joias ou Três Tesouros é, em geral, o que distingue um budista de um não-budista. Outras práticas podem incluir a renúncia convencional de vida secular para se tornar um monge (sânsc.; pāli: Bhikkhu) ou monja (sânsc.; pāli: Bhikkhuni).
A vida de Buda

Gautama com seus cinco companheiros, que mais tarde compuseram a primeira Sangha. Pintura da parede de um templo em Laos.
O rei Suddhodana estava determinado a ver o seu filho se tornar um rei, impedindo assim que ele saísse do palácio. Mas, aos 29 anos, apesar dos esforços de seu pai, Siddhartha se aventurou por além do palácio diversas vezes. Em uma série de encontros (em locais conhecidos pela cultura budista como "quatro pontos"), ele soube do sofrimento das pessoas comuns, encontrando um homem velho, um outro doente, um cadáver e, finalmente, um ascético sadhu, aparentemente contente e em paz com o mundo. Essas experiências levaram Gautama, eventualmente, a abandonar a vida material e ir em busca de uma vida espiritual.
Siddhartha Gautama fez uma primeira tentativa, experimentando a ascética e quase morreu de fome ao longo do processo. Mas, depois de aceitar leite e arroz de uma menina da vila, ele mudou sua abordagem. Concluiu que as práticas ascéticas extremas, como o jejum prolongado, respiração sem pressa e a exposição à dor trouxeram poucos benefícios, espiritualmente falando. Deduziu então que as práticas eram prejudiciais aos praticantes. Ele abandonou o ascetismo, concentrando-se na meditação anapanasati, através da qual descobriu o que hoje os budistas chamam de caminho do meio: um caminho que não passa pela luxúria e pelos prazeres sensuais, mas que também não passa pelas práticas de mortificação do corpo.
Quando tinha 35 anos de idade, Siddhartha sentou em baixo de uma árvore do tipo sacred fig, hoje conhecida como árvore de Bodhi, localizada no Bodh Gaya, na Índia, e prometeu não sair dali até conseguir atingir a 'iluminação'.
A lenda diz que Siddhartha conheceu a dúvida sobre o sucesso de seus objetivos ao ser confrontado por um demônio chamado Mara, que simboliza o mundo das aparências e muitas vezes é representado por uma cobra naja. Ainda segundo a lenda, Mara teria oferecido o nirvana à Sidarta, contudo ele percebeu que isso o levaria a se distanciar do mundo e o impediria de transmitir seus ensinamentos adiante. Assim, por volta dos 40 anos, Sidarta se transformou no Buda, o iluminado, atraindo um grupo de seguidores, e instituiu uma ordem monástica. Agora, passaria seus dias ensinando o darma, viajando por toda a parte nordeste do subcontinente indiano. Ele sempre enfatizou que não era um deus e que a capacidade de se tornar um buda pertencia ao ser humano. Faleceu aos 80 anos de idade, em 483 a. C., em Kusinagar, na Índia.
Os estudiosos se contradizem em relação às afirmações sobre a história e os fatos da vida de Buda. A maioria aceita que ele viveu, ensinou e fundou uma ordem monástica, mas não aceita de forma consistente os detalhes de sua biografia. Segundo o escritor Michael Carrithers, em seu livro O Buda, o esboço de uma vida tem que ser verdadeiro: o nascimento, a maturidade, a renúncia, a busca, o despertar e a libertação, o ensino e a morte.
Ao escrever uma biografia sobre Buda, Karen Armstrong, disse: "É obviamente difícil, portanto, escrever uma biografia de Buda, atendendo aos critérios modernos, porque temos muito pouca informação que pode ser considerada 'histórica'... mas podemos estar razoavelmente confiantes, pois Siddhartta Gautama realmente existiu e os seus discípulos preservam a sua memória, sua vida e seus ensinamentos".
Conceitos budistas
A vida e o mundo
Carma: lei de causa e efeito

Tradicional thangka do budismo tibetano alusivo à "Roda da Vida", com seus seis reinos.
No budismo, o carma se refere especificamente a essas ações (do corpo, fala e mente) que brotam da intenção mental (páli:cetana) e que geram consequências (frutos) e/ou resultados (vipaka). Cada vez que uma pessoa age, há alguma qualidade de intenção em sua mente e essa intenção muitas vezes não é demonstrada pelo seu exterior, mas está em seu interior e este determinará os efeitos dela decorrentes.
No budismo Teravada, não pode haver salvação divina ou perdão de um carma, uma vez que é um processo puramente impessoal que faz parte do Universo. Outras escolas, como a Maaiana, porém, têm opiniões diferentes. Por exemplo, os textos dos sutras (como o Sutra do Lótus, Sutra de Angulimala e Sutra do Nirvana) afirmam que, recitando ou simplesmente ouvindo seus textos, as pessoas podem expurgar grandes carmas negativos. Da mesma forma, outras escolas, Vajrayana por exemplo, incentivam a prática dos mantras como meio de cortar um carma negativo.
Renascimento
De acordo com o budismo, o renascimento em existências subsequentes deve antes ser entendido como uma continuação dinâmica, um constante processo de mudança - "originação dependente" (sânscrito: pratītya-samutpāda) - determinado pelas leis de causa e efeito (carma), em vez da noção de um ser encarnado ou transmigrado de uma existência para outra.
Cada renascimento ocorre dentro de um dos seis reinos, de acordo com os nossos reinos de desejos, podendo variar de acordo com as escolas:
- seres dos infernos: aqueles que vivem em um dos muitos infernos;
- preta: o reino de seres que padecem de necessidades sem alívio, sofrimento, remorsos, fome, sede, nudez, miséria, sintomas de doenças, entre outros;
- animais: um espaço de divisão com os humanos, mas considerado como outra vida;
- deva: comparado ao paraíso;
- semideuses: variavelmente traduzido como "divindades humildes", demônios, titãs e antideuses; não é reconhecido pelas escolas Teravada e Maaiana;
- seres humanos: um dos reinos de renascimento, em que é possível atingir o nirvana.
De acordo com o budismo praticado no leste asiático e o budismo tibetano, há um estado intermediário (o bardo) entre uma vida e a próxima. A posição Teravada ortodoxa rejeita esse conceito, no entanto existem passagens no Samyutta Nikaya do Cânone Páli (coleção de textos em que a tradição Teravada é baseada) que parecem dar apoio à ideia de que o Buda ensinou que existe um estado intermediário entre esta vida e a próxima.
O ciclo de samsara
Os budistas acreditam, em sua maioria, no samsara. Este, por sua vez, é regido pelas leis do carma: a boa conduta produzirá bom carma e a má alma produzirá carma maléfico. Assim como os hindus, os budistas interpretam o samsara não-esclarecido como um estado de sofrimento. Só nos libertaremos do samsara se atingirmos o estado total de aceitação, visto que nós sofremos por desejar coisas passageiras, e alcançarmos o nirvana ou a salvação.
Sofrimento: causas e soluções
As Quatro Nobres Verdades
- a vida como a conhecemos é finalmente levada ao sofrimento e/ou mal-estar (dukkha), de uma forma ou outra;
- o sofrimento é causado pelo desejo. Isso é, muitas vezes, expressado como um engano agarrado a um certo sentimento de existência, a individualidade, ou para coisas ou fenômenos que consideramos causadores da felicidade e infelicidade. O desejo também tem seu aspecto negativo;
- o sofrimento acaba quando termina o desejo. Isso é conseguido através da eliminação da ilusão, assim alcançamos um estado de libertação do iluminado (bodhi);
- esse estado é conquistado através dos caminhos ensinados pelo Buda.
De acordo com outras interpretações de mestres budistas e eruditos, e recentemente reconhecidas por alguns estudiosos ocidentais não-budistas, as "verdades" não representam meras declarações e/ou indicações, entretanto estas podem ser agrupadas em dois grupos :
- o sofrimento e as causas do sofrimento;
- a cessação do sofrimento e os caminhos para a libertação.
- "A Verdade Nobre Que Está Sofrendo";
- "A Verdade Nobre Que É O Surgimento do Sofrimento";
- "A Verdade Nobre Que É O Fim do Sofrimento";
- "A Verdade Nobre Que Produz o Fim do Caminho de Sofrimento".
O Nobre Caminho Óctuplo

O Dharmachakra representando o Nobre Caminho Óctuplo.
- prajna: é a sabedoria que purifica a mente, permitindo-lhe atingir uma visão espiritual da natureza de todas as coisas. Engloba:
- dṛṣṭi (ditthi): ver a realidade como ela é, não apenas como parece ser;
- saṃkalpa (sankappa): a intenção de renúncia, de liberdade e inocuidade.
- sila: é a ética ou moral, a abstenção de atos nocivos. Engloba:
- vāc vāc (vāca): falando de uma maneira verdadeira e não-ofensiva;
- karman (kammanta): agir de uma maneira não-prejudicial;
- ājīvana (ājīva): o meio de vida deve seguir os preceitos citados anteriormente.
- samadhi: é a disciplina mental necessária para desenvolver o domínio sobre a própria mente. Isso é feito através de práticas, engloba:
- vyāyāma vyāyāma (vāyāma): fazer um esforço para melhorar;
- smṛti (sati): ver as coisas como elas estão com a consciência clara da realidade presente dentro de si mesmo, sem desejo ou aversão;
- samādhi (samādhi): meditar ou concentrar-se de maneira correta.
Caminho do Meio
- a prática de não-extremismo: um caminho de moderação e distância entre a autoindulgência e a morte;
- o meio-termo entre determinadas visões metafísicas;
- uma explicação do nirvana (perfeita iluminação), um estado no qual fica claro que todas as dualidades aparentes no mundo são ilusórias;
- outros termos para o sunyata, a última natureza de todos os fenômenos (na escola Maaiana).
A forma como as coisas são
Debate entre monges do Sera Monastery, no Tibet.
Nos primeiros ensinamentos budistas, de certa forma, compartilhado por todas as escolas existentes, o conceito de libertação (nirvana) está intimamente ligado com a correta compreensão de como a mente lida com o estresse. Ao termos conhecimento sobre o apego, um sentimento de desapego é gerado e se é liberado do sofrimento (dukkha) e do ciclo de renascimento (samsara). Para esse efeito, o Buda recomendou ver as coisas através das três marcas da existência.
Impermanência, sofrimento e não-eu
Segundo a doutrina da impermanência, a vida humana incorpora esse fluxo no processo de envelhecimento, no ciclo de renascimento e em qualquer existência de perda. A doutrina afirma ainda que, pelo fato de as coisas serem impermanentes, o apego a elas é inútil e leva ao sofrimento (dukkha).
Dukkha ou sofrimento (pāli दुक्ख; sanskrit दुःख duḥkha) é um dos conceitos centrais do budismo. A palavra pode ser traduzida de diversas maneiras, incluindo sofrimento, dor, insatisfação, tristeza, angústia, ansiedade, desconforto, estresse, infelicidade e frustração, por exemplo. Apesar disso, dukkha é traduzido, muitas vezes, como "sofrimento", o seu significado filosófico é mais semelhante a "inquietação", como na condição de ser perturbado. Devido a isso, algumas literaturas preferem não traduzir o verbete, como é o caso do inglês, com o objetivo de englobar em uma palavra todos os significados.
Anatta, ou anatman, refere-se à noção da inexistência de um "eu". Após uma análise cuidadosa, verifica-se que nenhum fenômeno é realmente "eu" ou "meu", estes conceitos são, na realidade, construídos pela mente. O nikayas, no anatta, não é entendido como uma afirmação metafísica, mas como uma aproximação para ganhar sofrimento. O Buda rejeitou ambos os conceitos, afirmando que eles nos ligam ao sofrimento.
Originação dependente
O conceito mais conhecido e aplicado do pratītyasamutpāda é o regime dos Doze Nidānas (do páli: nidāna, que significa "provocar", "fundação", "fonte" e "origem"), que explicam a continuação do ciclo de sofrimento e renascimento em detalhe. Os Doze Nidānas descreve uma relação entre as características subsequentes, cada uma dando origem ao nível seguinte:
- Avidyā: ignorância (especificamente espiritual)
- Saṃskāras: formações;
- Vijñāna: consciência;
- Nāmarūpa: nome e forma (refere-se à mente e ao corpo);
- Ṣaḍāyatana: suas bases do sentidos (olhos, nariz, ouvidos, língua, corpo e mente);
- Sparśa: contato (traduzido, também, como "impressão" ou "estimulo" por um objeto);
- Vedanā: sensação, traduzida como algo "desagradável", "agradável" ou neutro;
- Tṛṣṇā: sede, mas, no budismo, refere-se ao desejo;
- Upādāna: apego ou apreensão;
- Bhava: ser (existência) ou se tornar (no Teravada possui dois significados: o carma, que produz uma nova existência, e a existência em si);
- Jāti: nascimento (entendido como ponto de partida);
- Jarāmaraṇa: velhice e morte, também traduzida, através do śokaparidevaduḥkhadaurmanasyopāyāsa, como tristeza, lamentação, dor e miséria..
Vazio
O conceito de "vazio" reúne as outras principais doutrinas budistas, particularmente a anatta e a pratītyasamutpāda (orientação dependente), para refutar a metafísica da Sarvastivada e Sautrāntika (não extintas da escola Maaiana). Para Nagarjuna, não são apenas os seres sencientes que estão vazios de atman; todos os fenômenos (dharmas) são, sem qualquer svabhava (literalmente "própria natureza" ou "autonatureza") e, portanto, sem qualquer essência fundamental, pois eles são vazios de ser independentes, assim, as teorias heterodoxas de Svabhava, circuladas na época, foram desmentidas com base nas demais doutrinas budistas.
Os pensamentos de Nagarjuna são conhecidos como Madhyamaka. Alguns dos escritos atribuídos a Nagarjuna fazem referências explícitas aos textos de Maaiana, mas sua filosofia foi argumentada dentro dos "parênteses" estabelecidos pela ágama. Ele pode ter chegado à sua posição a partir de um desejo de alcançar uma exegese coerente da doutrina do Buda, tal como o Canon. Aos olhos de Naharjuna, o Buda não era apenas um precursor, mas o próprio fundador do sistema Madhyamaka.
Os ensinamentos sarvastivada, que foram criticados por Nagarjuna, foram reescritos por estudiosos como Vasubandhu e Asanga e foram, posteriormente, adaptados para a prática do Yoga (sânscrito: Yogacara). Enquanto a escola Madhyamaka declarou que afirmar a existência ou a inexistência de qualquer coisa, em última análise, era inadequado, contudo, alguns expoentes da Yogacara afirmaram que a mente, e só a mente, é real (doutrina conhecida como consciência). Entretanto, nem todos dentro do Yogacara consideram essa afirmação; Vasubandhu e Asanga, em particular, são um exemplo.
Além do vazio, a escola Maaiana, muitas vezes, dá ênfase nas noções de discernimento espiritual pleno (prajnaparamita) e na natureza búdica (tathagatagarbha, que significa "embrião budista"). De acordo com o sutras de tathagatagarbha, o Buda revelou a realidade da imortal natureza budista, que se diz ser inerente a todos os seres vivos e permite que todos eles, eventualmente, atinjam a iluminação completa, ou seja, tornando-se Budas.
Especulações contra a existência direta na epistemologia budista
A distinção entre o budismo e outras escolas filosóficas indianas é uma questão da justificação da epistemologia. Apesar de todas as escolas de lógica indiana reconhecerem vários conjuntos das justificativas válidas para o conhecimento (pramana), o budismo, por sua vez, reconhece um conjunto menor do que os outros. Todos aceitam a percepção e a inferência, por exemplo, mas, algumas escolas budistas não.De acordo com as escrituras, durante a sua vida, o Buda permaneceu em silêncio quando questionado sobre as várias questões metafísicas. São perguntas como: se o universo é eterno ou não (ou se é finito ou infinito), se há unidade ou separação do corpo e do atman, a inexistência completa de uma pessoa depois do nirvana, entre outros. Uma explicação para esse silêncio é que tais questões atrapalham a atividade prática para o bodhi e trazem o perigo de substituir a experiência de libertação através da compreensão conceitual da doutrina ou pela fé religiosa.
Fonte: Wikipedia
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